Garrafadas de Ervas: Sabedoria Indígena e Utilização Contemporânea

Desde os tempos antigos, as plantas medicinais indígenas têm sido utilizadas na preparação de garrafadas, uma mistura tradicional de ervas com vinho, mel ou outros solventes. Essas garrafadas de ervas são amplamente difundidas em várias regiões do Brasil, prometendo curas milagrosas para diversas enfermidades. Preparadas por raizeiros, curandeiros e vendedores de plantas medicinais, as garrafadas contêm uma combinação de ingredientes vegetais, animais ou minerais macerados por dias. Neste artigo, exploraremos as origens e tradições das garrafadas, como são feitas, seus usos populares e crenças associadas.

Origem e Tradição das Garrafadas

As garrafadas são consideradas herdeiras das antigas triagas, fórmulas secretas conhecidas desde a Antiguidade Clássica e preparadas por reis e médicos. Embora não se saiba exatamente quando o termo “triaga” foi substituído por “garrafada” no meio popular, acredita-se que tenha ocorrido por volta de 1640, quando apenas as boticas dos colégios jesuíticos eram autorizadas a preparar remédios.

Garrafadas como Herança das Antigas Triagas

A bibliografia consultada permite admitir que as garrafadas são uma herança das antigas triagas, polifarmácias que remontam à Antiguidade Clássica. Essas preparações complexas, inicialmente consideradas remédios divinos e mágicos, tinham suas fórmulas mantidas em segredo, acreditando-se que isso era essencial para sua eficácia.

Influências Indígenas, Africanas e Portuguesas

O sistema médico popular no Brasil foi moldado por influências das três principais matrizes culturais: portuguesa, indígena e africana. Esses traços podem ser apreendidos por meio de técnicas etnográficas, próprias da Etnofarmacobotânica, área que une Etnologia, Farmácia e Botânica.

Transmissão do Conhecimento Tradicional

Decorrente da diversidade de sistemas de crenças envolvidos, diferentes profissionais, como curandeiros, benzedeiras, raizeiros, pais e mães-de-santo, juremeiros e pajés urbanos, firmaram-se como protagonistas das práticas médicas populares nos diversos contextos socioculturais, transmitindo esse conhecimento tradicional de geração em geração.

Preparação e Composição

Plantas Medicinais e Outros Ingredientes

As garrafadas são preparações complexas, compostas por uma mistura de diversas plantas medicinais, podendo incluir também elementos de origem animal ou mineral. As partes vegetais utilizadas podem ser cascas, frutos, folhas, raízes ou flores, secas ou frescas. Muitas vezes, as garrafadas contêm de duas até 21 plantas diferentes em sua composição.

Solventes e Veículos Utilizados

O solvente ou veículo utilizado nas garrafadas é geralmente uma bebida alcoólica, como vinho tinto ou branco (seco ou suave), conhaque, cachaça ou álcool de cereais. Cerca de 81,25% das receitas analisadas recomendam o uso de algum tipo de bebida alcoólica. O vinho é o principal veículo empregado, presente em 21 das 32 receitas divulgadas. Veículos não alcoólicos também podem ser usados, como vinagre de maçã, água, mel e leite condensado.

Processo de Maceração e Fermentação

A preparação das garrafadas envolve um processo de maceração, no qual os ingredientes vegetais e outros componentes ficam imersos no solvente por um período mínimo de três dias. Muitos raizeiros e curadores têm por hábito enterrar a garrafada preparada durante esse processo. Após a maceração, pode ocorrer uma fermentação natural, dependendo dos ingredientes utilizados.

Usos e Crenças Populares

Finalidades Terapêuticas Variadas

As garrafadas são utilizadas popularmente para tratar uma ampla gama de enfermidades e condições, desde problemas físicos até distúrbios emocionais e espirituais. Elas são frequentemente procuradas para fins como limpeza do sangue, tratamento de infertilidade, fortalecimento da virilidade masculina, cura de doenças crônicas e até mesmo para afastar energias negativas e mau-olhado.

Dimensão Espiritual e Crenças Religiosas

A crença na eficácia das garrafadas está intimamente ligada à espiritualidade e às crenças religiosas presentes na cultura popular brasileira. Elas são vistas como remédios imbuídos de poderes sobrenaturais, capazes de curar doenças físicas, mentais e espirituais. Essa dimensão sagrada confere às garrafadas um caráter místico, alimentando a fé dos usuários em seus poderes curativos.

Eficácia Simbólica e Fé Popular

Existe uma cumplicidade entre o curador e o doente em torno do poder simbólico de cura atribuído às garrafadas. Essa crença compartilhada, enraizada na fé popular, é um elemento crucial para a eficácia percebida dessas preparações. A confiança no poder curativo das garrafadas, transmitida de geração em geração, perpetua sua utilização e disseminação na cultura brasileira.

Caso você queira adquirir uma garrafada feita pelo pajé da aldeia clique no cartaz acima e será direcionado para Flora Tupi, parceira da 7 Ervas.

Conclusão

Depois de explorar as origens, preparações e crenças em torno das garrafadas de ervas, é evidente que elas representam um elo valioso com as tradições ancestrais e a sabedoria popular brasileira. Essas preparações não são apenas remédios, mas carregam consigo um rico simbolismo cultural e espiritual, refletindo a diversidade de influências que moldaram as práticas de cura no país.

Embora seus benefícios terapêuticos possam ser questionados sob uma lente científica rigorosa, o poder simbólico das garrafadas reside na fé e na crença compartilhada em seu potencial curativo. Essa conexão entre a tradição e a cura emocional e espiritual é o que mantém viva a utilização dessas misturas de ervas, perpetuando um legado de conhecimento tradicional transmitido de geração em geração.

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